sexta-feira, 10 de setembro de 2010

O Badalar das 11

Eram 11 horas, e os raios solares já invadiam o meu quarto cuidadosamente arrumado. Eu já estava atrasada, para variar, e ainda tinha que passar no posto e comprar uns cigarros, sem estes eu não sei viver. Engatinhei quase cega pelo quarto à procura da minha toalha e escova de dente. As achei no mesmo lugar. Após meu ritual da matinal, consegui localizar tudo o que precisava para ir ao trabalho. Desci as escadas e cumprimentei o porteiro do meu prédio, um pobre coitado sem nome. Quando cheguei até a garagem descobri que havia esquecido a chave do carro. Voltei para o apartamento, espalhei todo o conteúdo da minha bolsa pela sala e também no quarto, deitei-me na cama e fechei os olhos. Pausadamente os abri, comecei meu processo matinal de novo. Dessa vez pegando as chaves.

Minha barriga já roncava quando consegui atingir a portaria do prédio novamente, estava quase na hora do meu café-da-manhã.

Ao dirigir pelas ruas movimentadas, posso observar a população dessa cidade movendo-se como uma grande massa em direção aos seus respectivos alvos. Existe algo engraçado que observo com frequência: a burrice tremenda das pessoas. Como é possível que alguém se deixe ser assaltado nas ruas dessa cidade? Sei que estou protegida pelos vidros do meu carro, mas sempre coloco o volume do rádio nas alturas para qualquer eventualidade. Penso que se alguém tentar um roubo, eu poderia fingir não estar ouvindo o meliante no momento da abordagem.

Quando cheguei ao posto, quase tive minha blusa rasgada ou não perceber que a maldita peça de roupa havia ficado presa na porta do meu celta. Entrei na lojinha de conveniência, o ambiente estava agradável, peguei uns chocolates me dirigir ao caixa.

−Quero 11 carteiras de Derby Prata.

O caixa pareceu espantado. Fiquei irritada, pois fumantes não são seres de outro planeta. Mas o motivo da surpresa era o que estava passando no noticiário da TV. Parecia que algum idiota havia batido em uma torre em Nova York. A princípio, eu não entendi o motivo do escândalo se havia uma idêntica a ela bem ao lado. Bom, logo depois outro avião acertou a torre vizinha, então eu compreendi que eles poderiam ficar chateados: Agora eles haviam perdido dois aviões e não um. Isso provavelmente geraria uma crise nos aeroportos americanos.

Enfim, reclamei a atenção do caixa novamente. Queria pagar os cigarros e sair do local. Foi no momento da retirada da carteira que senti uma sensação gélida em minhas costas. Uma voz rouca sussurrou em meu ouvido que eu lhe entregasse a bolsa. Após obedecer ao assaltante, fui arremessada para o lado junto aos outros reféns.

De repente, houve um estalo, mas não foi de alguma bala perdida. Minha mente culminou em uma ideia divina. E eu logo estaria nos noticiários. Eu seria a heroína do dia, e não alguém tresloucado que não presta atenção na rota e acerta prédios em pleno centro da cidade.

Arrastei-me entre as prateleiras e peguei uma garrafa da boa e velha Bohemia. Corri para cima do assaltante, mas antes que eu pudesse agir de outra forma, senti um respingar engraçado no meu rosto. Eu só ia oferecer-lhe uma cerveja. Ele também me ofereceu algo: a morte. Sou a notícia da semana, só que na página do obituário. Infelizmente não consegui concorrer com os energúmenos pilotos na América.

Malditos aviões e seus condutores irresponsáveis, agora estão até dizendo que foi de propósito. Veja se pode algo assim? Isso sim foi uma bela de uma burrada, se nada desse “atentado” que estão dizendo por aí houvesse ocorrido, eu haveria saído da loja mais cedo e não sentiria o respingar engraçado. Se não fosse por isso eu provavelmente viveria por mais de 93 anos.